terça-feira, 4 de junho de 2019

Expresso para cadeirante


Para quem pensou que a lua de mel iria por água a baixo por causa da quebra de contrato da CVC/Avianca, está muito enganado. Eu realmente fiz várias caipirinhas com os “limões” que ganhei, rimos muito, nos divertimos até com as adversidades, porque acredito que devemos mudar o jeito que encaramos as situações, já que nem sempre conseguimos mudar as coisas que nos acontecem.

Como fomos para uma praia aqui do sul, no outono, era de se esperar frio e chuva, mas eu não iria me abalar com isso, botei meu biquíni e fui para a praia assim mesmo, aproveitar que tinha sol. Foram dois dias de sol e deu até para pegar uma corzinha, azar do vento frio do Alasca que cortava minha pele ao meio.

No terceiro dia o frio e vento não nos deu outra opção a não ser passear no centro na praia ao lado da que estávamos, mas como é um pouco longe, teríamos que pegar um ônibus, mas como já sabíamos disso fomos cedo para a parada, pois nem todos ônibus de lá são adaptados. O veículo parou e eu já fiquei na torcida que a rampa estivesse funcionando, já que aqui na capital nem sempre funcionam por falta de manutenção, imaginem na praia com o desuso e com a influência da maresia... A rampa desceu meio banza, mas foi, consegui subir.

Obviamente já cheguei a Capão da Canoa procurando o acesso mais rápido ao meu refugio predileto: O banheiro! Como vocês já sabem, não consigo planejar nem dois passos, ou melhor dizendo duas rodas, sem saber onde posso correr para socorrer a Dona Bexiga nervosa... Banheiro localizado mentalmente, pois na última ida lá, já tinha feito o “reconhecimento de campo”, o passeio pode prosseguir. Entrei em TODAS as lojas que tinha acesso para a cadeira, sim, adoroooo olhar vitrines, sou uma cadeirante arretada, mas continuo sendo uma mulher e mulheres são magicamente atraídas para todos os tipos de loja, desde loja de parafusos até as sonhadas lojas de roupas femininas. Simmm, eu entrei até nas farmácias, afinal, farmácia não deixa de ser uma loja, de remédios, mas uma loja!

Dei uma chegada à beira da praia, só para admirar meu habitat natural, o mar, porque banho de sol estava difícil devido ao frio polar que estava por lá. Fiquei realmente encantada, porque a prefeitura fez uma ponte de madeira até a beira da areia, ficou lindo e super prático. Em Capão Novo, praia onde sempre ficamos no apartamento da minha sogra, não tem acessibilidade, é uma luta todos os dias para conseguir chegar até a beira no mar com a cadeira de rodas.

Bateu aquela fome, almoçamos no mesmo restaurante que fomos da última vez, porque devido à estação dos pinguins e ursos polares parecer ter se instalado por lá, a maioria dos comércios estavam fechados, e as opções de restaurantes era ou este ou este mesmo... Logo após o almoço, nos dirigimos até a porta do mini shopping, local matematicamente calculado para socorrer a Dona aranha, que já estava subindo pelas paredes. Para nossa surpresa o shopping só abria às 13h30min, ainda faltavam 10 minutos para abrir e meu intestino chiliquento resolveu desandar... Olho para meu esposo e digo: Eu preciso ir ao banheiro, é muito urgente!! Ele me olha quase em pânico, não vai dizer que vai te dar diarreia? o.O

Nunca dez minutos demoraram tanto para passar, cheguei até a contar mentalmente todas as pregas do meu brioco e rezar nominalmente para cada uma delas aguentar a missão!! Quando entrei no corredor que levava aos banheiros, me lembrei de que o banheiro feminino de lá tem uma catraca na frente e não tem banheiro adaptado, só tem um adaptado dentro do banheiro masculino, que ótimo né? Vou ter que abrir a “barragem de Brumadinho” num banheiro masculino! Já imaginei todos os homens da cidade resolvendo ir naquele banheiro justamente quando essa calamidade estava por vir. Quase que por um encantamento, consegui sair de lá sem ser vista, ufa! Agora é rezar para até meu almoço ter ido privada abaixo, porque achar outro banheiro adaptado na cidade seria mais difícil que ganhar na loteria.

Passeamos mais um pouco, mas já indo em direção para pegar o ônibus de retorno, eu louca de medo com a dor de barriga pedir bis. Esperamos uma eternidade por um ônibus, quando ele finalmente apareceu, abriu a rampa novamente toda renga, mas eu consegui subir, o que poderia dar errado? Pois é, justamente, ela não descia para fechar, logo o ônibus não podia arrancar com a porta aberta, deliciaaa eu presa pelo lado de dentro do ônibus e meu esposo do lado de fora sem poder subir e o pior, como eu iria descer se a rampa não descia?

O coitado do motorista tentou tudo que foi botão para fazer a bichinha funcionar, mas ela nem sinal de vida, ele já desesperado ligou para a garagem e pediu reforços ...Gente, rápido, porque estou com uma cadeirante presa dentro do ônibus! Nessa altura eu já tinha rezado para todos os santos, até para o santo das causas impossíveis, porque minha bexiga e meu intestino nervoso não são de Deus.

Acho que uns trinta minutos se passaram, me pareceram três séculos, mas ok. Chegou a cavalaria com outro ônibus para levar a gente e a multidão que estava esperando o empasse da rampa subir. O técnico que veio junto para arrumar o ônibus que quebrou, subiu e num passe de mágica fez a rampa descer, mas igual tinha que levar o ônibus para a garagem para a manutenção, então eu deveria descer e entrar no outro veiculo. Nada mais poderia dar errado, certo? Errado, ao chegar à porta do outro ônibus, quem disse que a bendita rampa descia?

O motorista do resgate mandou todo mundo entrar no ônibus novo e disse: A senhora volta para o  ônibus que quebrou que vamos levar vocês num expresso direto para a casa de vocês, é o mínimo que podemos fazer depois de toda essa trapalhada. Lá fomos nós de volta ao ônibus que tinha me “prendido” e todos que estavam na parada resolvendo esse impasse nos olharam quase que catatônicos, como se não acreditassem que aquilo tudo estava ocorrendo...realmente dois ônibus não funcionarem as rampas de acesso era algo que não deveria ocorrer. Gente, senti como se estivesse pegando um táxi tamanho gigante, porque ele fechou o carro, colocou placa de manutenção para justificar não parar e pegou uma via expressa até a nossa casa.

Na nossa ultima noite de “lua de mel”, resolvemos aproveitar e entrar madrugada adentro namorando, afinal lua de mel tinha que ter “namoro”, não é verdade? Por volta das quatro horas da madrugada, em meio aquele enlace todo, tínhamos apenas uma luz de cabeceira acessa, aquele clima romântico pairando no ar... Meu esposo com uma voz enfática me diz: NÃO TE MEXE!! Logo pensei que era algum “jogo” sensual. OBAAA! Quando me liguei que tinha algo errado...olho lentamente para o lado e vejo na parede uma sombra gigante apontada pela luz do abajur, uma barata de proporções astronômicas, bem ao meu lado na parede, aff, acabou com o clima “sadomaso” do momento... E para a noite não acabar com essa imagem asquerosa, fui até à cozinha fazer uma caipirinha, afinal o tema dessa lua de mel foi os limões, né? Que eles sejam então com muito gelo, açúcar e cachaça!


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