Semana passada o hospital me chamou para fazer a ultima sessão de quimioterapia,
detalhe alguns dias antes do casamento, imaginem eu chegando ao altar na
cadeira de rodas, toda de branco vomitando nas rendas do vestido e voando grãos
de milho nos pés do padre e pedaços de alface no pé do noivo... tragicamente
cômico kkk Mas como vocês já sabem, minha vida faz uma mistura deliciosa de
tragédias cômicas, com o toque certo de bom humor, porque precisamos ser honestos
conosco, afinal nós doentes crônicos, como já diz o nome, não existe cura, é
crônico. Mas a forma que encararmos nossa patologia fará toda a diferença da
forma que ela irá evoluir, acredite!!
A logística de minhas vindas mensais para o hospital funcionam mais ou
menos assim, primeiro dia exames para ver se não estou com nenhuma infecção
ativa, segundo, terceiro e quarto dia para fazer a pulsoterapia, no quinto dia,
a quimio e no outro dia vou embora. Aqui no hospital eles tem uma tara
interessante, tu mal bota os pés no teu leito e já entra as enfermeiras com o
maldito “cotonete” para tu passar no c#! Em vez de entrarem no quarto
perguntarem se tu esta bem, se precisa de algo, nãooooo... já te dão logo o
trem para enfiar no c#! Ai quando não é isso, são elas vindo com a p#rra da
injeção de heparina para te massacrar na barriga. É engraçado, elas vem com
aquela injeção na mão e com um olhar tipo: “Que os jogos comecem!”
Lá estava eu, já tinha me acomodado, já tinha me esfregado no cotonete
do mal, lutado bravamente com a injeção de heparina, sobrevivi aos exames de
sangue e urina para poder começar o tratamento. Até que enfermeira entra de
sopetão no quarto, como se estivesse sofrendo um ataque terrorista no hospital
e me diz que entro em NPO a partir de agora, resumo jejum absoluto. Lá vou eu
ficar sem comer até meu estomago descolar da barriga e colar no cérebro, ser
gordinha é triste, mal comemos e já estamos sofrendo por antecipação a fome que
iremos sentir...
Só conseguia pensar em comida, olhava para meu marido e imaginava que
ele era uma salsicha gigante ( sim ele é magro e comprido rsrsrsrsrs), cada
enfermeira que entrava no quarto era uma comida diferente, uma tinha cara de
coxinha, a outra tinha cara de chocolate e por ai vai a loucura. Bom, resolvi
entrar no face, quem sabe me distraio olhando o pessoal se matar por causa de política ou futebol, afinal é só sobre isso que se fala no face nos últimos
meses... Ledo engano, acho que as pessoas todas foram possuídas por seres do
mal ou talvez tiveram suas almas
devoradas por alienígenas, por que TODAS, sem exceção , até as que odeiam
cozinhar, milagrosamente resolveram ir para a cozinha cozinhar e postar
maravilhas em suas timelines, era uma enxurrada de pizzas, lasanhas, bolos,
doces de tudo que é tipo, e até minha pior fraqueza: chocolates e negrinhos.
Resolvi me unir ao inimigo, já que estou com a sensação que na minha ultima
encarnação fui uma daquelas crianças raquíticas da África, vou entrar no
aplicativo Ifood e vou encarar de frente a minha fome, vou escolher o que vou
comer quando voltar do exame, afinal, o que pode dar errado, né?
Estava em duvida entre um bauru que amo, ou pasteis de Belém, esses por
culpa da minha fisioterapeuta que está em Portugal e tirou foto comendo essas
delicias e postou onde?? No Face, claroooo... ai a gorda aqui fica com desejo
de comer. Nesse interim, a enfermeira entra no quarto e me diz que daqui mais
ou menos duas horas eles me buscam para fazer o exame. Beleza, esperei passar
uma hora e resolvi já pedir, pois o bauru iria levar uma hora de meia para
chegar, ai fui concluir a compra e adivinhem? Os dois que eu estava afim já
tinham fechado, ai lá foi eu escolher qualquer um afinal... Àquela hora da
noite, seria um milagre achar um que estivesse ainda entregando...pedi um xis,
uma hora depois chegou o xis, e é lógico que eu ainda não tinha ido para o
exame, imaginem eu morrendo de fome e o xis exalando aquele cheiro de carne
dentro do quarto todo, delicia :/
Finalmente me buscaram para fazer o exame, chegando lá aquela tortura
até conseguir pegar uma veia para fazer o contraste, normal né, além das veias
já serem de seda desde que nasci somado aos meses de pulso e quimio terminou de
esculhambar com elas. Finalmente entrei no “túnel” para fazer a ressonância,
lembrando que eles amarram a gente como se fôssemos um assassino em série com
super força, tu não consegue mexer nem os cabelos do c#, mas tudo bem, vai
passar logo e meu amado xis estará fiel me esperando.
Gente, eu juro que não usei drogas, não bebi e não comi nenhum cogumelo
alucinógeno, mas aquela máquina estava estranha, aquilo não podia ser de Deus....
Primeiro começou dizendo repetidamente
pão, pão, pão, depois de alguns minutos começou a me falar broa, broa, broa, e
a fome percorrendo meu corpo como se fosse uma droga se espalhando pelo meu
corpo escuto a maquina falar rum, rum, rum... pensei pronto além de morta de
fome estou virando alcoólatra! O exame se aproxima do final e o túnel da
ressonância começa a sussurrar como se fosse o pacman do vídeo game: Nhock,
nhock, nhock até que finalmente ela se desligou e fui retirada do túnel. Isso
já era quase três horas da manhã e eu pensando nele...no meu xis que deveria
estar ansioso para ser devorado por mim, entro no meu quarto e sou surpreendida
pelo meu futuro esposo dormindo ferrado na minha cama, e os dois xis ali em
cima da mesa, ambos imaculados, pensei maquiavelicamente em devorar os dois,
afinal depois que ele cai no sono nem um terremoto o faz despertar, mas ai
pensei no juramento que farei na frente do padre daqui uns dias: na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença, na fome e na pança cheia... o juramento será
meu, eu juro o que eu quiser, alguém
contra? Aff, acordei o belo adormecido para comer comigo e agora terei que
contar para ele do desafio do túnel da fome o.O
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