quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Internação Dupla



Acho interessante como os laços da maternidade se entrelaçam e se enosam de uma forma mágica, sublime e muitas vezes o que pode ser trágico, facilmente podemos transformar em cômico. É claro, que se eu tiver a chance de transformar qualquer situação em cômico, eu o farei!

Vou ilustrar desde o começo para vocês entenderem onde começa a magia e aonde termina em comédia... Minha fiel escudeira, a Gigi, como a chamamos, tem uma doença de velho caquético nos pulmões, detalhe: a vovó em questão tem 17 anos, ai justifica a doença de velho, né? 

Acho que já contei que estou fazendo um tratamento de pulsoterapia e quimioterapia (com um quimioterápico especifico para Devic), e para administrar esses dois medicamentos preciso ficar internada por mais ou menos 5 dias por mês. Até ai tudo normal, né? Então nessa minha última internação a minha filha estava muito atacada dos pulmões e como eu não quis que ela ficasse sozinha em casa, deixei ela na casa de uma amiga, Ela ficar no hospital comigo não seria uma boa ideia, eu com a imunidade baixa e ela exposta para as bactérias que estavam do outro lado do complexo hospitalar.

Como ela ficaria na casa de uma amiga que eu conheço e por sinal é a que eu mais confio, fiquei tranquila, só passei as recomendações necessárias e os horários dos remédios para a adulta da casa. Maravilha, posso ir me internar sossegadamente... #SQN Enquanto a adulta da casa me passava que a Gigi estava ótima, sem febre e saturando bem, a própria Gigi me mandava fotos do termômetro e do oximetro dizendo o oposto. A gota d’água foi ela me dizer que se a ela continuasse mal levaria a Gigi no hospital na sexta feira (detalhe: disse isso na terça). O sexto sentido de mãe gritou mais alto, e chamei a minha guria, venha hoje para o hospital e vamos ali falar com o teu pneumologista. 

Gente vocês não tem noção, da muvuca que ficou aquele hospital, eu com acesso venoso num braço, pulseira de identificação no outro braço, e eu na cadeira de rodas, logicamente... Cheguei pé por pé, quero dizer roda por roda no posto de enfermagem e pedi que as enfermeiras me dessem cobertura, pois eu ia ter que dar rota de fuga temporariamente, para poder levar a filha no médico. Meu médico não poderia nem sonhar que a minha quimioterapia teria que ser adiada por algumas horas, mas era por uma causa nobre. 

Tentei tapar o acesso do braço para que não me barrassem transitando pelo complexo hospitalar, afinal eu estava internada no bloco neurológico e a Gigi iria para o bloco especializado em pulmões. Beleza, consegui escapar, me senti uma marginal cometendo um crime capital. Mas o pior ainda estava por vir...

Ao entrar no consultório do doutor (dentro do complexo hospitalar), ele me olha dos pés a cabeça, deve ter pensado que eu tinha fugido da ala psiquiátrica, só pode... Até que eu expliquei, que minha filha é menor de idade e que eu estava internada fazendo químio no prédio da neurologia, não teria como ela vir sozinha nessa consulta no estado que estava.  Ele fez os exames necessários e se apavorou com os resultados, me perguntou onde ela estava ficando esses dias que eu estava internada, então doutor é uma pequena novela...

Expliquei que inicialmente ela estava ficando na casa da vó, que por acaso tem 3 cães de grande porte que ficam dentro de casa o tempo todo, casa essa que é toda de carpete e cortinas, que deve fazer só uns 20 anos que não é lavado, perfeitas condições de higiene e limpeza né? Saiu de lá já atacada e foi para a casa do irmão dessa amiga dela, que por sinal um esmero de capricho... #SQN, contei para o doutor que ela tosava o cachorro dela em cima da mesa de jantar e depois nem limpava, servia a comida na mesma mesa. O médico estava quase tendo um ataque de nervos ouvindo tudo aquilo, gente o consultório do homem não tinha um pó sequer, eu imagino a nóia dele com pó, já que trata doentes pulmonares crônicos. Então perguntei se dava para ter esperado até sexta como a dona da casa que a Gigi estava queria, ele me respondeu bem serinho: Ela não iria sobreviver se estivesse esperado mais oO.

O doutor olhou bem sério para mim e disse que a função pulmonar da Gigi estava em menos de 45%, que era muito grave, que tinha uma pneumonia associada e que não tinha escolha, teria que interna-la. “Doutor estou internada no outro bloco, não temos ninguém que possa ficar com ela, e ela sendo menor não pode ficar sozinha, né?” Falei que tinha a vó, ele sem nem pestanejar: NÃOOOO, aquela vó NUNCA mais ela poderá ir, sem chances de eu tratar a menina e ela voltar para esse meio insalubre (acho que ele queria dizer porco mesmo... rsrsrsrsrs). O Dr levantou o telefone do ganho e efetuou umas 5 ligações para setores diferentes, só ouvia ele dizendo: Não me interessa o que vocês vão fazer, a guria é menor de idade e a mãe esta internada, coloquem as duas juntas, pronto!

Ai começou a via sacra... eu e a Gigi fomos no setor de internações e o pessoal perguntava: Mas vocês são irmãs? Não, sou mãe dela.. A senhora está internada?? Senhorrrr... como pode isso?? Pois é tive que explicar para umas 20 pessoas que eu era mãe dela, e que sim eu estava internada no outro bloco. A moça da internação ligando e explicando para o administrativo era cômico, temos que colocar as duas juntas, sim a mãe está internada também... Acho que foi o primeiro caso da Santa Casa de mãe e filha ter que se internarem no mesmo quarto, até porque não tinha nenhum parente que pudesse ficar com a menina...

Não preciso nem contar que sai lá do meu leito era umas 15h e já era quase 20h e eu não tinha aparecido para fazer a quimio, acho que mais um pouco tinham mandado uma equipe de busca atrás de mim... Quando passei pela equipe de enfermagem, as gurias correram em minha direção: Dani, onde tu estava? Estávamos que nem doidas atrás de ti. Gente, eu avisei que ia levar a minha guria no médico. E elas: Tá mas tu disse que era aqui no pavilhão do lado , não no Hospital Sírio Libanês!! Então, demorou porque o médico resolveu que vai internar a baixinha, e como ela é menor de idade tá fazendo um tumulto para conseguir colocar nós duas juntas no mesmo quarto. A enfermeira disse, tomara que ele não ligue pro teu médico, senão ele não vai deixar te tirarem daqui e levar para outro bloco.

Bom, agora que já não esta mais em minha alçada a solução desse enredo, vou tranquilamente fazer minha quimio. Claro que a novela não acabou ai...quando a enfermeira foi pegar meu acesso( aquele que desfilei pelo complexo hospitalar todo), lógico que ele tinha escapado, e quem disse que elas conseguiam pegar outra veia, todas arrebentavam ou então colocava o soro e refluía sangue para todo o lado. Meu marido em pânico do lado e eu chorando de rir, literalmente... Foi uma luta, até que elas conseguiram achar uma, amém, minha cama mais parecia uma zona de guerra, lavada em sangue e não era menstruação viu? Tudo dessa veia bandida! 


Finalmente conseguiram quarto para nós, mas eu teria que trocar de bloco, só conseguiram leito duplo lá no bloco da pneumo...gente foi um sarro eu juntando meus cacarecos para ir para outro leito, ninguém acreditava que tinham conseguido nos botar juntas, certamente foi o primeiro caso assim do hospital. Onde a gente passava as enfermeiras perguntavam se éramos as pacientes mãe e filha. Vocês não vão acreditar, mas o médico da Gigi deu alta para dois pacientes dele só para liberar um quarto para por nós duas... kkk 

Quando entrava alguma enfermeira nova no nosso quarto e perguntava se era ali que estavam mãe e filha internadas, prontamente eu respondia: Sim, e ela é a mãe (apontando para minha guria) rsrsrsrsrsrsrs! Foi uma internação dupla, duplo tratamento, dupla luta, dupla risada, dupla diversão e sempre muita emoção envolvida! Amor de mãe move montanhas, fato! E o nosso amor e simbiose é mágico e pleno, nunca teremos duvidas disso, né filha?


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