sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Cadeirante pode ir na praia?



Pois é amigos, todos devem saber como a nossa sociedade é preconceituosa, pessoas “diferentes” sempre são olhadas com outros olhos principalmente em situações ditas “de pessoas normais”.  Nós com alguma deficiência certamente já ouviu alguma dessas típicas frases: “Nossa, tão bonita e na cadeira de rodas!” “ Puxa, tão novinho e cego!” “ Que judiaria, uma pessoa tão boa deficiente físico...”

Como já é de costume, vocês sabem que eu vivo justamente na via contrária a esse estereótipo. Os que me conhecem já devem ter percebido que vivo meus dias intensamente e não deixo nenhum “rotulo” escrever minha história. E que sim, me esforço para fazer da dificuldade uma piada, não me abato e nem me entristeço com as pedras no caminho, porque se tiver pedras, as junto e faço uma sopa de pedras..hahahahahahaha

Vocês já repararam que não tem quase cadeirantes na rua? Já viram que na praia então é raridade? Eu , por exemplo, nunca vi (além de mim, claro kkkk). Como não me abalo em ser “diferente”, eu aceitei o convite dos meus amigos de passar uma semana na casa deles em Atlântida . E ai começou as minhas aventuras...

Bom, começamos por uma atividade básica e teoricamente simples: Ir até a praia. Então, bem simples né, carregar cadeiras de praia, guarda sol, bolsa, esteira, canga, cooler( tem que ter cerveja gelada, né?), material para sondagem e o principal: a cadeira de rodas, né? Fácil, carregar tudo isso ou dirigir a cadeira de rodas!  Como não fui sozinha, até deu, um levava as coisas até a praia, eu levava algumas no colo e alguém me levava. Agora, passar com aquelas rodinhas finas da cadeira sem atolar na areia realmente é quase uma missão secreta.


Chegando à beira da praia as aventuras não pararam... imaginem tomar várias cervejas bem geladas, o que acontece um tempo depois? Entrou tem que sair, né? Então, vamos nos sondar, barbada. É só pedir para alguém segurar a canga no meu colo para disfarçar o que estou fazendo e esperar esvaziar um pouco as pessoas na minha volta. Depois de alguns minutos de sofrimento tentando achar o maldito buraco da uretra, porque sem enxergar é f#da, beleza deu certo, consegui o xixi começou a sair, mas não acabou por ai... Tinha a recém conseguido me acertar na posição, quando sou mega surpreendida pelo homem do bar da praia: “Tudo certo ai patroa?” E o homem não saia do meu lado, parecia um dois de paus e eu louca para mandar ele a p#ta que o pariu e saísse logo do meu lado. Genteeee vocês não imaginam a tensão que fiquei, com medo que aquela porcaria de cateter saísse do lugar e eu tivesse que catar de novo o buraco...kkk

Vou contar só a saideira das emoções da praia hoje, resolvemos dar uma volta no centrinho de Tramandaí. Tudo bem tranquilo, claro... Como eu sou uma pessoa bem “normal” não fiz nada que chamasse a atenção, né? ERRADO!!!   Minha filha estava atrás me ajudando a subir um rebaixamento de meio, quando me dei conta que no fim da rampa tinha nada mais, nada menos que UM POSTE, é isso mesmo, um poste. Sem pestanejar, me agarrei no poste e comecei a dançar como se ele fosse um Pole Dance. Minhas amigas riram que se matavam, minha filha tadinha ficou com aquela cara “ Mãe, o que é isso?” E todos na rua pararam para olhar com um misto no olhar, de curiosidade, admiração, surpresa e claro muitos riram de monte e alguns com aquele certo olhar de reprovação ( como o que comentei no inicio desse post). Certamente para minha filha e para minhas amigas rebaixamentos de meio fio nunca mais serão os mesmos... kkkk

Então peço que os amigos após lerem esse post, concluam a minha pergunta inicial, “ Cadeirante pode ir na praia?”



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