segunda-feira, 13 de julho de 2020

O resgate da lagartixa



Em meio a essa pandemia avassaladora, nossas rotinas foram desfeitas como um castelo de areia e temos que nos reinventar diariamente. E tentar não surtar com a família, acredito que um dos maiores desafios está justamente em aprender a conviver 24 horas por dias os 7 dias da semana com nossos conjunges, filhos e pais. Tento não ter um ataque de pelanca a cada vez que peço uma simples tarefa 789 vezes e não enlouquecer quando o digníssimo esquece a luz acessa ou a garrafa de água fora da geladeira.

Estou diariamente me reinventando e uma das minhas maiores diversões é conversar com o pessoal nos grupos do whats. No grupo da mesma doença que tenho( NMO), carinhosamente apelidei cada um dos membros de acordo com alguma característica ou comportamento, lógico que com uma pitada de ironia, sátira e humor, tudo na medida, sem magoar meus amigos, amigos esses que são quase da família, afinal conversamos sobre tudo e sobre nada. Todos os dias, estamos presentes no dia a dia um do outro, dividindo alegrias, tristezas, dores, conquistas e fracassos.

Usando apelidos, cada dia eu criava com as cores da minha imaginação pequenos contos engraçados para tentar divertir meus amigos, esses contos são pequenos furtos, recheados de humor e aventuras. Vamos aos apelidos, para imergir meus amados leitores nessa trama de fantasia com gotas de magia e pinceladas de devaneios.

Apelidei a Liege de troféu lesma, porque conversávamos por horas e ela aparecia depois de todo o assunto já ter mudado para comentar sempre com atrasos as conversas. O André é nosso bendito ao fruto, único menino do grupo, nele usei uma característica física, ele é completamente cego, prontamente o chamei de morcego, segundo ele quando eu me drogo chamo ele de Batman, errado não está… kkkk A Fabi, passa o dia offline, só aparece a noite para conversar conosco e também tem baixa visão, logo apelidei-a de minhoca, bichinho que trabalha a noite e é quase cego. A Fafá eu apelidei de agarra marido, porque eu peguei no pé dela dizendo que as dores nas “juntas”passavam com uma boa “noitada” com o marido.

A Marcinha como bebe meia taça de vinho (misturado com água) e já fica trocando as pernas, comecei a chamá-la de esponja paraguaia. A Rô eu apelidei de empata foda, porque estávamos numa vibe toda sensual mandando fotos de meninos bonitos no grupo, afinal o André não enxerga, não vai se importar rsrsrsrsrsrs, a Rô aparece do nada e manda umas fotos de uns homens barrigudos, carecas e na capa da gaita, poxaaaa Rô, não empata a foda! A Dê, ganhou o mimoso apelido de vó, só porque é a menina mais experiente do grupo. A Mi, acabei apelidando ela de tartaruga, ela tem dias que passa o dia fazendo as encomendas dela, e estava sempre chegando no meio das conversas perguntando algo que já tinha sido dito. A Ale, teve uma crise de ciúmes porque o irmão dela resolveu levar a primeira namorada em casa para eles conhecerem, ahhh ganhou o apelido de irmã ciumenta.

E a nossa estrela principal desse conto é a Beta, apelidada de lagartixa, porque mandava alguns áudios chorosos contanto tudo que estava passando internada pela doença de base, então eu mandava um áudio dizendo: Não te mixa lagartixa… e assim pegou o apelido.

A lagartixa não estava melhorando, e eu fui dormir pensando, vou escrever o próximo conto dedicado a ela, o resgate da lagartixa, onde cada um de nós teríamos um papel para conseguir resgatar ela do hospital.

Os dias se passaram, a correia do dia a dia, as aflições por causa da pandemia acabaram me abalando e não consegui escrever o conto para alegrar a minha amiga. Como ela não estava bem eu conversava com o marido dela quase todos os dias para saber notícias.

Até que recebo a triste notícia que ela tinha ido para a UTI, estava entubada, inconsciente e com falência renal, e não era pela nossa doença, ela ficou tanto tempo no hospital que acabou contraindo o monstro que está assombrando nossas vidas nesses últimos meses: O COVID. Somente um milagre poderia salvá-la.

Na noite fatídica de quarta-feira, infelizmente recebi a notícia que dessa vez o milagre não aconteceu e que não são só de alegrias que se vive a vida. Chorei, chorei por tê-la perdido para o COVID, chorei pelas famílias que estão perdendo seus entes queridos, chorei pelos enterros de caixão fechado que a minha amiga e tantas outras amigas e amigos estão tendo, chorei pelas pessoas que não estão respeitando a violência desse vírus e estão expondo os grupos de risco, como nós, minha amiga estava representando tudo isso e muito mais. Sei que ainda vou chorar, vou sentir saudades e muitas outras pessoas passarão pela mesma dor, mas eu ainda devo esse “resgate” para minha amiga… Então minha lagartixa, essa história é para você:

Mas montei um plano triunfal, para resgatar a nossa lagartixinha desse leito do hospital. O Batman, sobrevoa a entrada no Hospital da PUC para se certificar que a movimentação dos seguranças noturnos, a informação é de que estavam no intervalo. A vó entra caminhando bem devagar no saguão do hospital propositalmente deixa cair suas agulhas de tricô, nesse instante a moça da recepção sai do balcão para socorrer a vovó, quem resiste a uma vó singelamente necessitada de ajuda?

Chega a empata foda e distrai a ascensorista do elevador, dando passagem livre para a agarradora de marido e a esponja paraguaia conseguirem ir até o quarto andar, onde nossa lagartixa estava enclausurada. A Ale teve uma crise de ciúmes porque não conseguiu subir, teve que ficar cuidando da namorada do irmão. As meninas passaram com sucesso pelo posto de enfermagem sem serem vistas, glória, chegaram no quarto da Beta!

Conseguiram desconectar nossa amiga dos fios e tubos que lhe prendiam a cama e partiram rumo ao elevador. Quando velozmente o enfermeiro gigante surge no corredor tentando brecar o rapto. Nesse instante as “velozes” troféu tartaruga e lesma surgem na porta do elevador e com seus passos ridiculamente lentos conseguem evitar a passagem do enfermeiro. Conseguiram passar pela portaria e a minhoca já estava na frente sinalizando onde ela tinha construído os tuneis da fuga. A lagartixa está livre, conseguimos!”

Sucesso! Nossa turma concluiu esse resgate magistralmente, e, pelo menos, na ficção salvamos nossa amiga! E para você leitor que está se perguntando onde eu entro nessa mágica história, eu singelamente lhe respondo, estou aqui só para lhes contar, de que adianta ter uma boa história se não tiver quem conte?

Ps: Esses últimos parágrafos são um conto de ficção, a verdade dele são os apelidos e a singela homenagem a eterna amiga Beta. Vá em paz amiga! Você será eterna em nossos corações!

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Aventura motorizada



Ganhei uma cadeira motorizada do SUS, mas fiquei ressabiada porque tentei manobrar a bichinha dentro de casa e consegui bater em tudooo. Meio que peguei nojo, como pode um treco que é para facilitar a mobilidade ser tão difícil de pilotar. Larguei-a num canto como se fosse um brinquedo velho, mas essa história mudou logo...

Como no Brasil tudo sobe menos o salário de aposentado, olhei novamente para aquela maquina de destruição das paredes da casa e pensei: Não posso deixar essa cadeira que se acha uma Ferrari ganhar esse jogo! Estufei o peito como se fosse um galo de rinha e peguei a dita cuja para dar uma volta na praça, afinal de contas dentro de casa é complicado de treinar porque é tudo apertado, mal passa a minha cadeira de rodas normal. Gente, vocês não tem noção, foi o máximo, me senti livre como um passarinho no seu primeiro vôo!

Como o teste-drive foi concluído com sucesso, vamos alçar novas aventuras. Resolvi ir ao meu treino de esgrima adaptada, detalhe: SOZINHA! Isso mesmo, chega de depender dos outros para minhas saídas de casa, nós cadeirantes já dependemos muito dos outros, o que eu puder evitar para preservar a minha independência assim vou fazer. E sugiro que todos que são cadeirantes ou tem alguma deficiência tentem ao máximo fazer as coisas sem depender de ninguém, acreditem é renovador!

Montei na fera com motor e desci até a avenida para pegar o ônibus, claro que com uma pontinha de medo, afinal é lomba abaixo e as ruas são muito esburacadas, mas isso não iria me impedir né? Mas por precaução, mandei uma mensagem para minha filha avisando da minha peripécia, também avisei a galera da esgrima, pois devido as minhas ultimas internações fiquei de molho dos treinos.

Glória, cheguei até a parada sã e salva! Subi no elevador do ônibus e rumo ao clube para treinar, o que poderia dar errado, né? Fiz sinal para descer, subi na rampa do elevador e meu coração já batia a mil, cheio de adrenalina por estar fazendo uma das coisas que eu mais sonhava: Ser livre novamente!

Estava eu lá no alto, ansiosamente esperando a rampa do elevador começar a descer, mil emoções passavam em minha mente, mas o que mais forte gritava na minha cabeça era eu CONSEGUI! Lá embaixo a minha espera estava o motorista do ônibus, pois faz parte da segurança ele recepcionar cadeirante e atrás de mim estava o cobrador operando o controle do elevador.

Senti uma sensação estranha passando pelo meu corpo, os segundos congelaram e o espaço tempo pareceu se desintegrar algo deu errado, a rampa do elevador começou a sumir, como se estivesse indo para outra dimensão, o ar ficou pesado, os movimentos pareciam estar lentos e ao fundo escutava as pessoas começando a gritar, pareciam estar falando em câmera lenta. Senti a cadeira literalmente emborcando e eu sem ter onde me agarrar, olhei para o motorista e decidi: Antes eu cair nos braços do motorista que meus dentes beijarem o asfalto, AZARRR!! Sim, a rampa continuou a sumir e a cadeira literalmente caiu comigo junto em cima do motorista, isso tudo ao imenso coro dos passageiros gritando, ela vai cair, segurem ela!

Para quem não entendeu o que aconteceu, foi ridiculamente surreal, o cobrador deve ter tido uma diarreia mental e apertou o botão de recolher a rampa em vez de apertar para descer... Quando parei de cair que nem um jamelão maduro, corri os olhos no meu corpo para ver se estava tudo no lugar, e sim, mas a cadeira quebrou, devido ao grande peso da cadeira, somado aos meus não tão singelos quase 70 kilos, os dois tubos que seguram os pedais, racharam.

Olhei para o motorista, e o homem estava branco, quase um fantasma, ele tremia que nem vara verde, mal conseguia falar, perguntou para mim umas mil vezes se eu estava bem  e se ele não estava fedendo, gente o homem preocupado se estava fedendo? Ele podia estar sujo de bosta que eu nem ia ligar, eu não me esborrachando no cimento já estava no lucro.  Eu bem tranquila acendi meu cigarro enquanto ele fazia a parte burocrática. É gente, todo mundo do ônibus teve que descer, fazer baldeação para outro veiculo, a empresa teve que mandar outro carro, aquele que estávamos teve que ir direto para a garagem para confirmar se estava tudo certo com o carro. Enquanto isso, preencho o boletim de ocorrência, aviso o clube que sofri esse acidente e que não teria como ir treinar, afinal os pezinhos da cadeira estavam bambos, seria arriscado continuar a andar assim. Mandei uma mensagem para a minha guria, avisando que tinha dado merda e eu estava voltando para casa.

Depois de toda a burocracia resolvida, a empresa de ônibus me disse que iria pagar o meu prejuízo, claro eles estavam morrendo de medo que eu processasse eles, afinal foi na verdade uma falha humana que poderia ter me deixado mais aleijada do que já sou ....rsrsrsrsrsrsrs
Chamaram outro ônibus para me levar de volta, subi na rampa toda descoordenada, afinal os pedais quebrados estavam roçando nas rodas quando eu dava ré, imaginem, bem complicado para manobrar. Eu na sofrência tentando manobrar de ré para colocar a cadeira dentro do ônibus e para minha surpresa a cobradora se gruda na minha cadeira tentando ansiosamente “me ajudar” a manobrar, detalhe, a cadeira é motorizada, lembram? Então, ela não anda puxando, não adianta tentar empurrar, olhei para ela e disse: Moça, não adianta tentar me puxar, ela não vai se mexer, tem que ter paciência e me deixar manobrar, ela esta quebrada, por isso está difícil.

Desci do ônibus e pensei, não posso dar ré, é só tocar para frente direto para casa, vai dar certo! Fui rezando até chegar em casa, tenho mais sorte que juízo, no fim não foi nada demais, só um susto, e uns ferrinhos quebrados, logo conto como foi para consertar. O que mais importa é vocês saberem que isso não me abalou, não me intimidou, vou continuar firme no meu projeto INDEPENDÊNCIA! Não me importo de pagar o preço dos riscos, pois a alegria de ir e vir sem depender de ninguém não pode ser um luxo, tem que ser realidade de qualquer pessoa. Gente não tenha medo de viver, a vida é maravilhosa com alegrias e desafios, tudo vale a pena!

terça-feira, 4 de junho de 2019

Expresso para cadeirante


Para quem pensou que a lua de mel iria por água a baixo por causa da quebra de contrato da CVC/Avianca, está muito enganado. Eu realmente fiz várias caipirinhas com os “limões” que ganhei, rimos muito, nos divertimos até com as adversidades, porque acredito que devemos mudar o jeito que encaramos as situações, já que nem sempre conseguimos mudar as coisas que nos acontecem.

Como fomos para uma praia aqui do sul, no outono, era de se esperar frio e chuva, mas eu não iria me abalar com isso, botei meu biquíni e fui para a praia assim mesmo, aproveitar que tinha sol. Foram dois dias de sol e deu até para pegar uma corzinha, azar do vento frio do Alasca que cortava minha pele ao meio.

No terceiro dia o frio e vento não nos deu outra opção a não ser passear no centro na praia ao lado da que estávamos, mas como é um pouco longe, teríamos que pegar um ônibus, mas como já sabíamos disso fomos cedo para a parada, pois nem todos ônibus de lá são adaptados. O veículo parou e eu já fiquei na torcida que a rampa estivesse funcionando, já que aqui na capital nem sempre funcionam por falta de manutenção, imaginem na praia com o desuso e com a influência da maresia... A rampa desceu meio banza, mas foi, consegui subir.

Obviamente já cheguei a Capão da Canoa procurando o acesso mais rápido ao meu refugio predileto: O banheiro! Como vocês já sabem, não consigo planejar nem dois passos, ou melhor dizendo duas rodas, sem saber onde posso correr para socorrer a Dona Bexiga nervosa... Banheiro localizado mentalmente, pois na última ida lá, já tinha feito o “reconhecimento de campo”, o passeio pode prosseguir. Entrei em TODAS as lojas que tinha acesso para a cadeira, sim, adoroooo olhar vitrines, sou uma cadeirante arretada, mas continuo sendo uma mulher e mulheres são magicamente atraídas para todos os tipos de loja, desde loja de parafusos até as sonhadas lojas de roupas femininas. Simmm, eu entrei até nas farmácias, afinal, farmácia não deixa de ser uma loja, de remédios, mas uma loja!

Dei uma chegada à beira da praia, só para admirar meu habitat natural, o mar, porque banho de sol estava difícil devido ao frio polar que estava por lá. Fiquei realmente encantada, porque a prefeitura fez uma ponte de madeira até a beira da areia, ficou lindo e super prático. Em Capão Novo, praia onde sempre ficamos no apartamento da minha sogra, não tem acessibilidade, é uma luta todos os dias para conseguir chegar até a beira no mar com a cadeira de rodas.

Bateu aquela fome, almoçamos no mesmo restaurante que fomos da última vez, porque devido à estação dos pinguins e ursos polares parecer ter se instalado por lá, a maioria dos comércios estavam fechados, e as opções de restaurantes era ou este ou este mesmo... Logo após o almoço, nos dirigimos até a porta do mini shopping, local matematicamente calculado para socorrer a Dona aranha, que já estava subindo pelas paredes. Para nossa surpresa o shopping só abria às 13h30min, ainda faltavam 10 minutos para abrir e meu intestino chiliquento resolveu desandar... Olho para meu esposo e digo: Eu preciso ir ao banheiro, é muito urgente!! Ele me olha quase em pânico, não vai dizer que vai te dar diarreia? o.O

Nunca dez minutos demoraram tanto para passar, cheguei até a contar mentalmente todas as pregas do meu brioco e rezar nominalmente para cada uma delas aguentar a missão!! Quando entrei no corredor que levava aos banheiros, me lembrei de que o banheiro feminino de lá tem uma catraca na frente e não tem banheiro adaptado, só tem um adaptado dentro do banheiro masculino, que ótimo né? Vou ter que abrir a “barragem de Brumadinho” num banheiro masculino! Já imaginei todos os homens da cidade resolvendo ir naquele banheiro justamente quando essa calamidade estava por vir. Quase que por um encantamento, consegui sair de lá sem ser vista, ufa! Agora é rezar para até meu almoço ter ido privada abaixo, porque achar outro banheiro adaptado na cidade seria mais difícil que ganhar na loteria.

Passeamos mais um pouco, mas já indo em direção para pegar o ônibus de retorno, eu louca de medo com a dor de barriga pedir bis. Esperamos uma eternidade por um ônibus, quando ele finalmente apareceu, abriu a rampa novamente toda renga, mas eu consegui subir, o que poderia dar errado? Pois é, justamente, ela não descia para fechar, logo o ônibus não podia arrancar com a porta aberta, deliciaaa eu presa pelo lado de dentro do ônibus e meu esposo do lado de fora sem poder subir e o pior, como eu iria descer se a rampa não descia?

O coitado do motorista tentou tudo que foi botão para fazer a bichinha funcionar, mas ela nem sinal de vida, ele já desesperado ligou para a garagem e pediu reforços ...Gente, rápido, porque estou com uma cadeirante presa dentro do ônibus! Nessa altura eu já tinha rezado para todos os santos, até para o santo das causas impossíveis, porque minha bexiga e meu intestino nervoso não são de Deus.

Acho que uns trinta minutos se passaram, me pareceram três séculos, mas ok. Chegou a cavalaria com outro ônibus para levar a gente e a multidão que estava esperando o empasse da rampa subir. O técnico que veio junto para arrumar o ônibus que quebrou, subiu e num passe de mágica fez a rampa descer, mas igual tinha que levar o ônibus para a garagem para a manutenção, então eu deveria descer e entrar no outro veiculo. Nada mais poderia dar errado, certo? Errado, ao chegar à porta do outro ônibus, quem disse que a bendita rampa descia?

O motorista do resgate mandou todo mundo entrar no ônibus novo e disse: A senhora volta para o  ônibus que quebrou que vamos levar vocês num expresso direto para a casa de vocês, é o mínimo que podemos fazer depois de toda essa trapalhada. Lá fomos nós de volta ao ônibus que tinha me “prendido” e todos que estavam na parada resolvendo esse impasse nos olharam quase que catatônicos, como se não acreditassem que aquilo tudo estava ocorrendo...realmente dois ônibus não funcionarem as rampas de acesso era algo que não deveria ocorrer. Gente, senti como se estivesse pegando um táxi tamanho gigante, porque ele fechou o carro, colocou placa de manutenção para justificar não parar e pegou uma via expressa até a nossa casa.

Na nossa ultima noite de “lua de mel”, resolvemos aproveitar e entrar madrugada adentro namorando, afinal lua de mel tinha que ter “namoro”, não é verdade? Por volta das quatro horas da madrugada, em meio aquele enlace todo, tínhamos apenas uma luz de cabeceira acessa, aquele clima romântico pairando no ar... Meu esposo com uma voz enfática me diz: NÃO TE MEXE!! Logo pensei que era algum “jogo” sensual. OBAAA! Quando me liguei que tinha algo errado...olho lentamente para o lado e vejo na parede uma sombra gigante apontada pela luz do abajur, uma barata de proporções astronômicas, bem ao meu lado na parede, aff, acabou com o clima “sadomaso” do momento... E para a noite não acabar com essa imagem asquerosa, fui até à cozinha fazer uma caipirinha, afinal o tema dessa lua de mel foi os limões, né? Que eles sejam então com muito gelo, açúcar e cachaça!


terça-feira, 14 de maio de 2019

Com um limão faço uma limonada, não, uma caipirinha!



Como vocês já sabem, casei em dezembro, foi um evento mágico e inesquecível. Mas hoje vou contar como foi o embarque para a lua de mel, que na verdade começou sendo lua de limão, mas borá lá mudar o curso dessa história. Fizemos a nossa lista de noivos na CVC empresa de turismo, com o dinheiro ganho iriamos ir para Salvador na Bahia.

Em janeiro mesmo, já escolhemos o pacote, com hotel, translado e passagens aéreas, tudo com a CVC, deixamos tudo pago e começamos o sonho de conhecer o nordeste. Cada avião que escutávamos sobrevoando nossa casa, dizíamos: Logo será o nosso! Olhamos os pontos turísticos e planejamos onde iriamos e o que faríamos. Uns dias antes fiz uma sobremesa chamada de ambrosia para levar para a minha maninha do coração, a Cris, que mora lá em Salvador, eu também tinha separado as chimias, outro doce típico do Sul que a minha outra mana, a Liane, que mora aqui em Travesseiro deu para levar para nossa baianinha. Seria um encontro emocionante, somos uma família virtual se tornando aos poucos real, unidas por uma doença, mas consagradas pelo amor!

Ansiedade a mil por hora e a contagem regressiva atualizada com sucesso... Nossa viagem dos sonhos estava  a cada dia mais próxima. Estava marcada para sábado de madrugada, já estávamos com o voucher do hotel e translado em mãos, o San foi quinta feira (isso mesmo, quase véspera da lua de mel) para pegar nossas passagens. Quando fui surpreendida pela fatídica ligação dele me dizendo que a empresa de companhia aérea que iriamos voar tinha falido, isso mesmo... quebrou e nós estávamos sem voo. Meu Deus, e agora? Veio-me mil lagrimas no rosto, senti meu sonho derretendo como sorvete no sol. A solução que nos deram era ir por outra companhia, que iria nos custar a humilde bagatela de quase 3 mil reais, inviável, né? Afinal o nosso pacote não chegou a custar 3 mil, o pacote todo com hospedagem, passagens, tudo mais. Outra hipótese era escolher outro destino, menos de dois dias da viagem, com certa tristeza e decepção olhei o destino de Vitória, no Espirito Santo, a diferença que teríamos que pagar seria de 400,00, mais fácil claro, mas ai fui olhar os horários de voo, na ida teríamos que ficar quase quatro horas dentro do aeroporto esperando a baldeação com o outro voo, e na volta mais de seis horas esperando em São Paulo esperando a conexão com o voo que viria para Porto Alegre... O pacote era de 5 dias e ficaríamos quase um dia dentro do aeroporto?? Nãooooo!

A CVC tenta se eximir da culpa, alegando que foi a Avianca que cancelou, mas cá entre nós uma viagem a passeio sempre é um sonho, mas uma lua de mel é O SONHO. O San tinha solicitado suas férias, já não teria mais como voltar atrás, e férias novamente, na teoria só daqui um ano. Reembolso do nosso investimento a CVC disse que só fará em 60 dias, maravilha, né? Se for a gente que cancela, eles cobram multa e o escambal... Nós vamos receber só em 60 dias e sem nenhuma compensação. Como assinamos o contrato com a CVC, lógico que eles são responsáveis sim!

Minha mente é inquieta, e não seria algo assim que deixaria eu me abater, meu cérebro trabalhando a todo vapor para achar uma saída, porque penso que só não existe saída para a morte (mesmo assim, já passei a perna “nela” algumas vezes). Chorei 5 minutos, sequei as lágrimas e liguei para meu marido, vamos fazer o seguinte, vamos para o apartamento de praia da tua mãe e vamos processar a CVC por danos morais, pois outras férias tu não vai poder tirar agora. Resolvido, não vou estragar a minha lua de mel por causa deles... Afinal se eu ficar só chorando e me lamentando igual não vai resolver e ainda por cima não vamos curtir nada a nossas férias.

Sábado, dia da nossa viagem corremos na rodoviária para comprar as passagens para segunda, não queria perder nem mais um dia. Passagens compradas, fomos arrumar as malas e reprogramar nossa mente para a alteração de planos. Deram-me um limão e eu não vou fazer uma limonada, simplesmente porque não quero, vou fazer é uma caipirinha, porque o limão agora é meu e faço com ele o que eu quiser rsrsrsrsrsrrsrsrs

Então chegou o dia da viagem, partimos para a rodoviária, de ônibus com mala e cuia é claro! Delícia, férias programas para calor e sol, estava um dia frio e chuvoso... Mas sem se lamentar, não tenho vocação para muro de lamentações. Como estava chovendo, os degraus do ônibus estavam todos molhados e embarrados, em vez de o San pedir para o motorista passar um paninho para eu poder subir de bundinha como costumo fazer, o nego véio resolve me colocar na garupa e me levar até o banco. Logicamente ali as pessoas já começaram a nos olhar como se fossemos dois alienígenas de férias...

Beleza, o ônibus deu inicio a viagem, o que mais poderia dar errado, né? A chuva engrossou, do nada o motorista parou no acostamento, o burburinho de o que tinha ocorrido já começou na fofoca de corredor do ônibus... Foi um pneu que furou, faltou gasolina, o motor superaqueceu... Não, foi o limpa para-brisas do motorista que não estava funcionando o.0  O tumulto no veículo já estava implantado, não sabíamos o que aconteceria a seguir, mas a esperança de todos é que a viagem seguisse seu curso normal, ledo engano.. O caminho foi desviado até a garagem mais próxima, em Osório, todos teriam que descer do ônibus e fazer uma baldeação para outro veiculo, isso tudo abaixo de chuva que Deus manda... Logo pensei, p#ta m&rda vou ter que descer de novo, e detalhe, esperar acharem a minha cadeira no porta malas para eu poder sair. Logo pensei... bom já que estou na “chuva”, vou aproveitar para ir ao banheiro, como vocês já sabem minha bexiga é muito impaciente kkkk Desce todo mundo, é prioridade é só na lei, na prática o cadeirante é o ultimo a descer e o ultimo a subir no ônibus. Já anunciei para o ônibus todo que eu ia ao banheiro, que me esperassem... Mesmo processo novamente, o San me pega na garupa e me coloca na cadeira de rodas, aproveitei e sai que nem um relâmpago até o banheiro, chegando à porta, adivinhe? Não tem banheiro adaptado, o San me pega no colo que nem princesa, mas o encanto acaba quando ele deixa metade da minha bunda na lateral da porta... Quem mandou ser cadeidura né?

O processo para voltar ao meu acento era o mesmo, colo, cadeira de rodas e garupa do San, como a porta do ônibus e a escada eram estreitas e curva, eu fui caindo, despencando como se fosse uma laranja podre, em vez de entrar em desespero como uma pessoa normal, me deu uma crise de risos e o marido dizendo para eu não o  fazer rir, senão ele perde as forças...ele me botou no acento todo errado e nós dois quase morrendo de tanto rir, obviamente as pessoas nos olhavam com um misto de olhares de surpresa, medo, admiração e claro que acabaram rindo de nós dois rindo, escutava as pessoas dizendo: Eles nessa situação ainda se divertem...

Tudo certo, podemos prosseguir viagem? Até que uma senhora grita: Esta faltando um passageiro, uns dos meninos mórmons  que é americano, não voltou! Ai, senhor, eu não acredito!! Lá vai o cobrador descer e procurar a criatura... 10 minutos depois, nada dele, desapareceu... Eram 3 mórmons, mas só embarcaram no outro ônibus 2, para completar eles não falavam nossa língua...o motorista resolveu que iria seguir viagem assim mesmo, ninguém mandou ele sumir.

O ônibus começou a andar e meu digníssimo esposo pergunta: Sr. Cobrador, tu pegou a nossa mochila grande que estava embaixo da cadeira de rodas?? Todo mundo se apavorou... ah nãooooo, vamos ter que voltar?? O cobrador levou uns 15 segundos e respondeu sem muita certeza, sim peguei... Passou mais alguns segundos e escutei o cobrador cochichar com o motorista alguma coisa, ele dá sinal de pisca e torna a encostar o ônibus no acostamento, pronto o que foi dessa vez? E São Pedro não dava trégua, chuva de balde, escuro, frio e vejo o cobrador sair correndo pela estrada atravessando a rodovia a jato, alguns segundos se passaram e vi-o voltando correndo com uma mochila... É que o bocó esqueceu a mochila dele na troca dos ônibus, mas é um herói! O riso dentro do veiculo foi contagiante... Aquela tragédia já tinha virado comédia a horas...

Agora vamos seguir viagem, mas fico aqui ainda pensando no coitado do mórmon que foi cagar e ficou pra traz num país que ele não sabe nem a língua, coitado, não sabe nem em que cidade ficou e as malas do coitado? Quando menos eu esperava, vi três mulheres de pé no ônibus, cheia de sacolas, pareciam comidas, roupas, material de higiene, achei estranho, pois era no meio do nada, só tinha mato, até que as mulheres dizem para o motorista, vamos descer no presidio... Gente, era dia de visita intima....kkkk não pude conter meus risos, mas afinal de contas, mulher de bandido também é gente né? Eu não iria, daria um jeito de achar outro marido, mas cada louco com sua mania... E agora tchau para os meus amados leitores, tenho uma lua de “limão” para curtir, e garanto que vou curtir muito e com muita caipirinha, já que limão não me faltou! ;-)


domingo, 17 de março de 2019

Cocô voador!



Brasileiros pulam carnaval, certo? Bom, para muitos sim, mas como eu não sou todo mundo, resolvi comemorar o feriado indo fazer uma tatuagem nova, na verdade duas, porque gosto muito de me riscar, acho tatuagens uma arte que podemos carregar conosco para sempre.

Meu tatuador tem o estúdio em Esteio, então preciso pegar um ônibus, o trem e mais um ônibus, para voltar de lá faço o mesmo processo, mas garanto vale a pena. Vocês devem estar se perguntando se sou louca, devo ser mesmo, porque fazer toda essa viagem de cadeira de rodas só para fazer uma tatuagem realmente não é uma tarefa para perdedores. 

Perguntei para meu esposo qual era a melhor estação para pegarmos o trem, afinal sei que a maioria das estações não tem elevador para subir com a cadeira de rodas. Ele prontamente me respondeu que no Mercado Publico é a mais certa de o elevador estar funcionando, afinal é a última parada. Então, pegamos um ônibus rumo ao centro, chegando lá fomos surpreendidos com a noticia que o ÚNICO elevador estava estragado... Que ótimo, teria que subir de cadeira de rodas pela escada rolante, que é algo realmente assustador, porque o funcionário do trem tem que me segurar quase deitada na cadeira para conseguir chegar ao topo da escada rolante. Mas ok, missão concluída com sucesso, mesmo pensando que eu deveria ter cogitado a hipótese de ir de fralda, no intuito de não ser surpreendida pelo meu ânus medroso...

Enfim, consegui chegar ao meu tatuador sem me cagar, ótimo, agora o resto é fácil! Depois de umas duas horas uma das duas tatuagens já estava pronta, resolvi ir ao banheiro para evitar qualquer acidente durante o segundo desenho. Meu marido me pegou no colo e me colocou na privada, detalhe, o banheiro dele é bem apertado e a porta é uma daquelas sanfonadas, logo só entro se for levada no colo. Já estava sentada no WC, o que poderia dar errado?

Justamente, como diz a lei de Murphy, se pode dar algo errado, vai dar! Como minha bexiga e meu intestino não são uma dupla de confiança, fui na intenção de fazer um inocente xixi, quando fui surpreendida por um combo... tentei me limpar rapidamente para ninguém desconfiar, afinal não me sinto a vontade indo cagar num banheiro minúsculo e com uma porta que não fecha completamente, sabendo que estavam me esperando na sala da frente. E não é que fui passar o papel no brioco e um pedacinho de cocô ficou grudado no papel e voou da minha mão e caiu direto no chão, perto da porta sanfonada. Bateu-me um desespero, será que os meninos conseguem ver o cocô voador pela fresta da porta? Contorci-me toda para tentar pegar o fujão sem que ninguém visse meu vexame. Ufa, agarrei o bendito e depositei na privada, dando  descarga bem ligeiro para evitar ser flagrada no ato no mínimo constrangedor...

Sai do banheiro com cara de cachorrinho que caiu da mudança, mas acho que nenhum dos dois percebeu, assim espero! Lá vamos nós para a segunda tatuagem... Nossa, ficaram lindas, o guri é um artista de verdade! Ele embalou as duas tattoos, pronto já posso fazer a peregrinação para retorno ao lar.

Lembram que eu contei que era feriado de carnaval? Então para completar era domingo, imaginem ônibus nesse período..meu digníssimo amado esposo, teve a “brilhante” ideia de descermos na estação aeroporto, em vez de ir até o mercado publico, já que lá o elevador estava estragado, né? Realmente na estação aeroporto o elevador estava ok, então o que tenho a temer? Então... na dita parada de ônibus, só passa UM ônibus que vinha até a nossa casa, detalhe, é de frente para uma estrada totalmente erma, sem gente, sem luz, e sem ônibus, afinal era um domingo de carnaval... delicia!! 

Para completar eu estava morrendo de frio, porque sai de bermuda e regata por causa das tattoos, e nunca imaginei que estaria frio. Imaginem a cena, eu com frio, morrendo de fome(afinal nem tinha almoçado, porque não daria tempo), e louca para terminar de fazer cocô(que comecei por acidente lá no tatuador). Depois de umas mil horas, passa um ônibus, lega não era adaptado...Ai meu marido solta a pérola: Vamos pegar o trem ir até o mercado publico, afinal lá no centro tem mais linhas de ônibus. Prontamente eu repondo: Que mané trem!! Depois de eu estar aqui morrendo de tudo, não vou voltar para lá! 

Passado mais uma hora eu acho, passa outro ônibus, meu esposo faz sinal e vai perguntar para o motorista se passa onde queremos ir, legal ele não sabia nem qual ônibus tinha que pegar. Enquanto o motorista explica que deixa um pouco longe, pois vai pela Av Sertório, passa o ônibus certo, o que deveríamos ter pego...e simplesmente não parou. Tivemos que pegar aquele que iria nos deixar longe, para caminhar várias quadras no frio, escuro e eu com o c# literalmente pegando fogo... É hoje que tem marido assado na janta! Rsrsrsrsrsrsrsrs

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Pequi X o roubo do taxista



Com toda a curtição do casamento REALmente raro, acompanhado da tão esperada lua de mel, acabei não contando as proezas do amigo secreto que fizemos na véspera do casamento. Sim, amigo secreto com o grupo dos amigos raros do whats, aquele que contei para vocês que se tornaram minha família.

Como o grupo é raro, o amigo secreto não poderia ser diferente, né? Então, como fazer um amigo secreto totalmente virtual, com pessoas de todos os cantos do Brasil? Fácil, um pouco de imaginação, diversão, uma leve pitada de desorganização, uma avalanche de loucuras, tudo isso com a ajudinha de um site virtual de sorteio de amigo secreto. É uma bagunça completa, mas já fazem 3 anos que organizamos e desorganizamos essa absoluta maluquice e no fim da tudo certo, ou quase tudo pelo menos.

Então, como nos outros dois anos eu que administrava o sorteio e acabava por puro passe de mágica, ou será destino, eu tirava sempre a minha mana Liane. Por esse motivo, a mana achava que eu estava fraudando o sistema para sempre tirar ela... aff! Mana, seja feita sua vontade, faça você o sorteio para ver que é pura sorte minha, foi o que ocorreu, ela fez o sorteio e quem foi que eu tirei?? Justamente ela, mas como houve um pequeno desentendimento que nos forçou a refazer o sorteio, e eu fui agraciada em tirar meu mano Afonso, marmeladaaaaa, será? Tanto faz, ameiiii!!

No mesmo dia que cada um descobriu que foi seu amigo sorteado, me aproveitei da euforia de todos e entrei no site do sorteio e disparei recadinhos anônimos para todos os participantes do grupo, era uma comédia, mandava recadinhos quase todos os dias, me fazendo passar por outra pessoa, foi uma esculhambação só. Tinha gente achando que tinha sido pega por mais de uma pessoa, tinha gente “roubando” o amigo do outro, tinha gente pedindo 5 mil presentes(euzinha), para dar várias opções para o amigo secreto, e o que mais ocorreu foi as beldades não davam NENHUMA sugestão... assim tu dificulta o amiguinho, né? Eu tenho trauma com amigo secreto, porque na maioria das vezes ganhamos uma coisa nada haver conosco ou o pior que isso, não sabemos o que dar para nosso amigo. Certa vez fizemos um amigo secreto na empresa de meu pai, com um valor simbólico de limite para todos os funcionários terem condições de participar, meu querido pai, fez uma lista “lunática” de sugestões, com itens impossíveis como: Um carro importado, barco, viagem para Nova Iorque, e por ai vai, lógico que era gozação dele, mas imaginem que foi que tirou ele? Justamente um dos funcionários mais humildes, e no dia da revelação do sorteio a expressão do funcionário ao tentar se justificar que “só pode” comprar uma caixa de bombom para meu pai, essa lembrança marcou minha alma como se fosse ferro quente. 


Foram mais de um mês de pura diversão, bilhetes anônimos “trocados” para todos os lados, sugestões de presentes um tanto inusitadas, Raul queira ganhar uma lanterna cheia de frufru, mas foi premiado além da lanterna, um pacote de sabão de coco, justamente por uma piada do grupo, pois ele caiu na asneira de dizer que tomava banho só com sabão de coco, já viram, né? Quando ele some, todos zoam dele dizendo que lá vai o Raul tomar banho com sabão de coco...kkkk Eu como amante de toda a gastronomia do nosso imenso Brasil, além de mil outras opções, disse que gostaria de ganhar algo típico da gastronomia da região do amigo secreto, na verdade pensava em algum doce, carne de sol, camarão seco, temperos, algo assim, mas minha amiga secreta teve uma curiosa ideia...

Uma vez pedi para o mano Afonso me mandar uns pequis (fruta típica de Minas) para eu provar, pois meu pai adora e eu não fazia ideia do gosto. Peguei no pé do Afonso por mais de um ano por conta dos tais pequis, sabendo disso Clélia trouxe para mim um potão gigante com uns 5 kgs de pequi ( que estavam na mala “perdida” do mano). Clélia fez um arroz com pequis na véspera do casamento aqui em casa, achei o gosto um tanto peculiar, me lembrou a fruta butiá, típica aqui do Sul, interessante o sabor, mas não seria algo que faria parte do meu cardápio regular. Kelly foi a minha amiga secreta e lembrou da história da tal fruta e adivinhem? Ela comprou uma bandeja de pequis e tentou me mandar pelos correios, mas eles não deixaram, pois é algo perecível... No dia da revelação a Kelly me contou dos pequis e perguntou se queria que ela mandasse via transportadora ou se preferia que ela ajudasse na nossa lista de noivos na CVC, sem cerimônia alguma eu disse que preferia o presente na CVC, mais pequis??? Nãooooooo!! O cheiro forte da fruta ainda embriagava a minha geladeira, mesmo com o pote dos pequis fechado. Gente, que fruta mais bizarra, além de um gosto e cheiro pitoresco, a bichinha é cheia de espinhos dentro, se tu não prestares atenção enche a boca de espinhos. 


A mana Liane mandou a tal lanterna de espião 007 para o Raul juntamente com o pacotão de sabão de coco, mas o detalhe foi que ela mandou entregar na casa dele, no nome dela, sim o presente no nome dela....imaginem o carteiro questionando o Raul se tinha alguma Liane na casa dele, ele explica o ocorrido, sem delongas o carteiro questiona de onde esta vindo a mercadoria para confirmar se o que ele falava era verdade, Raul todo seguro de si, enche a boca para dizer: Está vindo de FRONHA/RS. O carteiro com um olhar curioso responde, Senhor, essa cidade não consta no mapa do Brasil. Lógicoooo, não é Fronha, é Travesseiro, mas como a zoação não tem limites, Raul apelidou carinhosamente a cidade de “Fronha”. Raul quase fica sem presente, mas sem a piada não fica não!

Longe de mim dizer que praga pega, imagina dizer que uma simples brincadeira iria gerar uma  gatunagem deslavada, o mundo só irá evoluir quando soubermos brincar, aproveitar a vida. Então o que vou contar aqui não tem nenhuma culpa do amigo Raul, ele foi uma vítima de mais um bandido oportunista que tenta agir na onda da impunidade... Raul pegou um táxi na rua rumo ao hospital para exames de rotina, acompanhado por sua irmã, devido as suas dificuldades de locomoção. Como ele estava sem seus óculos no momento de passar o cartão de crédito para pagar a corrida, sua irmã digitou a senha, mas na pressa não viu que o meliante em vez de digitar R$86,00 colocou um 9 na frente, gerando uma corrida astronômica de R$986,00. Como não foi solicitado por nenhum aplicativo, meu amigo não sabia a quem recorrer para reclamar a cobrança exorbitante. 

Quando nos contou no grupo, eu pensei em dizer que se soubesse disso, tinha dito para ele vir até Porto Alegre para meu casamento, que teria dado mais barato, mas como o momento não cabia a minha pitada de humor negro, todos nós tentamos pesquisar na internet uma forma de “rastrear” o taxista ladrão, ladrão é o mínimo que podemos dizer de um sujeito que cobra ilegalmente de um deficiente físico uma quantia dessas por uma corrida, se ele fosse uma pessoa correta que se enganou ao digitar, teria entrado em contato para devolver o “erro”. Depois de alguns dias nós tentando localizar o cara, eu dei uma pausa na minha lua de mel para tentar ajudar meu amigo, até que achei um site que puxa até a cor das cuecas de qualquer pessoa, passei o link no grupo, avisando que se estivesse disposto era só pagar uma taxa de trinta e poucos reais para o site para ter todos os dados para ir atrás do meliante. A nossa amiga do grupo, a Marci, em menos de 10 minutos postou no grupo todos os dados da criatura. A dúvida se a heroína de Raul pagou a tal taxa, irá pairar no ar, mas o ato generoso dela, isso não tem preço! Eita grupo unido da p#rra!! 

Cris, a baianinha do grupo, toda atrapalhada, escolheu uma blusa num site de produtos esportivos para a sua amiga secreta, a Marci, comprou e mandou entregar. O que isso tem de interessante? Nada, se não fosse pelo fato da pateta ter colocado o endereço dela para entrega, isso mesmo, em vez do presente ir rumo a Florianópolis com destino às mãos da Marci, ela colocou seu endereço da Bahia... Imaginem por quantos minutos nós do grupo rimos, quando a Cris contou que o presente da Marci tinha acabado de chegar, na casa da Cris ....Hahahahahahaahahah Baianos são o máximo! Eles não se estressam com nada, lá foi a Cris escolher outra coisa para dar para a amiga, induzido por mim, pois eu vi a Marci dizer que queria ganhar qualquer coisa, menos blusa...xiii Ainda bem que o endereço estava errado, na verdade acho que a Cris gostou tanto da blusa que acabou enviando para ela mesma(inconscientemente claro, ou não?) A Cris teve a brilhante ideia de mandar um pedaço da própria Bahia para a Marci, um livro de ninguém menos que Jorge Amado. Lacrou!

A nossa brincadeira acabou ai? Lógico que não, lembram-se do “assalto” do Raul? Pois então, com a fatura astronômica da corrida “roubada”, o limite do cartão de crédito do nosso amigo, foi estuprado sem dó. Resultado disso? Kelly, a rainha do pequi, está ainda esperando a fatura do Raul fechar para ele poder lhe mandar o seu presente. Ouvi um boato por ai, que a Kelly vai ganhar uma bandeja de pequi... o.0